segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Abaixo as meias!

Uma ilustração para uma estória do meu pai. Saiu na revista de Natal do Jornal de Leiria.

Uma estória de natal...

Sabias que, durante muito tempo, os teus pais pagavam ao Pai Natal os presentes que ele oferecia? E pagavam, também, para ele ser aquela pessoa simpática que todos conhecemos? O dinheiro que o Pai Natal ganhava servia para pagar os salários dos seus duendes e as contas da fábrica onde se fazem os presentes; mas também para comprar os presentes para a sua própria família. E o resto, guardava para si próprio.
Mas houve uma dupla malvada, constituída por Sócrates e Passos Coelho, que quis ter o dinheiro todo do mundo; e começou pelo nosso inocente país, seguindo depois pela Europa, tornando-a num pobre lugar. Feito isto, o Natal dependia apenas das poucas moedas que os pais das pobres crianças ainda podiam dar ao Pai Natal, para que este continuasse a distribuir carinho pelos meninos e meninas. Mas como ele, na verdade, sempre fora um pouco egoísta, e queria continuar a guardar uma parte do dinheiro para si, passou a dar apenas uma prenda a cada criança. E as crianças, que já estavam habituadas a uma montanha de prendas, perguntaram-se o que se passava com o Pai Natal. Mas esta prenda única, apesar de recebida com desgosto, era melhor do que nada; elas teriam de se contentar com isso.
Contudo, no ano seguinte nada melhorou, até piorou! O Pai Natal passou a distribuir uma boneca igualzinha a todas as raparigas e um pião igualzinho a todos os rapazes. E no ano seguinte, esta ação repetiu-se! E no outro também!
E como as bonecas e os piões eram sempre os mesmos em cada ano que passava, os meninos e as meninas começaram a ficar fartos; por todo o lado, havia crianças a chorar pois já tinham perdido a esperança de receberem um presente diferente no próximo ano. Os pais das crianças começaram a ficar fartos e no dia 25 de Dezembro às 00:00 começaram a queixar-se ao Pai Natal por ter feito o seu filho (ou filha) chorar. Este, rabugento como sempre, fez, novamente, que o Natal fosse uma desgraça: ficou sentado junto da lareira, a contemplar a neve, não fazendo o mínimo esforço para entregar uma simples prenda.
Os duendes (que serviam como empregados do Pai Natal), pensavam assim: “Este nosso chefe… Quando me contratou, não era esta pessoa.”
E tentaram convencer o Pai Natal a voltar a ser aquela pessoa que era. Mas foi tudo em vão. Pensavam: “O mundo vai ficar um sítio muito triste, porque, se nem uma criança sorrir, quem irá sorrir?
Então, os duendes armaram um plano para pôr em prática, não só no dia de Natal, mas também em todos os restantes meses, no dia 25. Agarraram no trenó e no maior número de prendas que puderam e levaram-nas para dar às crianças, tal como o Pai Natal fazia antes, mas com uma pequena diferença: não queriam dinheiro em troca, apenas queriam que as crianças sorrissem! E, devido a isso, a grande quantia que o Pai Natal guardara foi diminuindo muito depressa, até ele ficar sem nada.
Foi então aí que o Pai Natal acordou. Tinha sido um sonho, que lhe mostrou o que aconteceria se continuasse a ser egoísta. Então pensou: “Vamos começar do zero.”
Agora, nos tempos que correm, mesmo com Sócrates ou Passos Coelho, podemos não ter o Natal que queremos, mas temos o Pai Natal a que nos habituámos. Um Natal em que as crianças voltaram a sorrir.
Mas claro que ainda há muitas crianças que não sorriem porque não recebem presentes; se calhar devíamos ser nós, as crianças que recebem vários presentes, a partilhar alguns deles, não acham? E poderíamos todos ser pais-natal.

Para a D. Lurdes...

quarta-feira, 6 de julho de 2011

O robô reciclador


Olá, sou a Verdeclara, lembram-se de mim? Gostava de vos contar uma nova história.
Houve uma vez um cientista que fez uma criação magnífica: um robô reciclador que tinha alma humana! Este robô montou uma barraca mesmo junto de mim e as pessoas faziam fila para lhe entregar velharias “fora de moda”, que ele colocava dentro do seu peito, bem junto ao seu coração de robô; e quase por magia (ou melhor, por ciência), o objecto transformava-se no mesmo objecto mas novo.
Certo dia, reparei que o robô atendia uma menina.
- Então, menina, qual a razão da tua visita?
- Eu… eu vim pedir… sabe…
- Sim?
- Ah… Eu vim pedir a sua amizade!
O robô ficou paralisado, e só pensava: amizade? Nunca ninguém se preocupou em vir aqui pedir… amizade. A pobre criança percebeu que o robô não era assim tão humano como se pensava pois não sabia o que era “aquilo” da amizade… Então foi-se embora, triste… O robô também ficou triste pois aquela menina era a primeira pessoa a sair dali sem ir satisfeita.
Porém, a menina em vez de ir para sua casa foi à fábrica do cientista, que por acaso era seu avô, e fez-lhe um pedido. Este aceitou logo o desafio e pôs mãos à obra.
Então, estava o robô ainda muito triste porque não conseguia parar de pensar naquela menina e no seu pedido quando chegou o cientista. Tinha acabado de escrever um artigo sobre o que era a amizade e colocou-o na memória do robô.
No dia seguinte, a menina veio bem cedo à barraca e depois de esperar na fila, fez novamente o pedido, com um sorriso na cara:
- Eu gostava de ter a sua amizade.
O robô acenou com a cabeça a dizer que sim, porque agora já sabia o que a menina desejava. E a partir desse dia, quando a barraca estava fechada e o robô não estava a reciclar, brincavam os dois como se fossem os melhores amigos do mundo. E o Robô nunca mais esqueceu que amizade significa dar e receber.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Brinquedos a mais

Sabem, eu sou a Verdeclara, uma árvore com mais de cem anos que vive no centro da cidade de Leiria… Sou tão velha que já assisti a muitas histórias; querem que vos conte uma?
Era uma vez um rapaz que vivia aqui na rua. Já não tinha pai e, por isso, a mãe fazia-lhe todas as vontades; até estranhava porque via-os sempre a passar de um lado para o outro e o miúdo estava sempre a pedir qualquer coisa que via nas montras das lojas.
- Oh mãe, olha para aquele camião. E o robot, que fixe. Olha-me para este novo jogo para a wii.
- Ok, ok, ok, eu compro.
Mas quando chegavam a casa, eu bem via pela janela que ele deixava os brinquedos num canto do seu quarto, sem praticamente lhes tocar; via televisão ou olhava pela janela e depois deitava-se. E era sempre assim, todos os dias: pedia coisas que não serviam para nada, enchia o quarto com tudo o que queria mas não se sentia mais feliz por isso.
Até que um dia a mãe o apanhou escondido no quarto, a chorar. Entre lágrimas, acabou por explicar que estava arrependido de ter pedido todos aqueles brinquedos porque o que ele mais queria não se podia comprar em nenhuma loja. Então, a mãe percebeu finalmente que o seu filho não queria brinquedos mas desejava a sua atenção, queria apenas que a sua mãe brincasse um pouco consigo.
Então, a mãe pegou naqueles brinquedos todos e enviou-os para os meninos pobres de África. E a partir desse dia, passava todos os momentos livres que tinha a brincar com o seu filho: às escondidas, à batalha naval, ao berlinde, à macaca. E riam muito alto.